segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Oração de Natal de um órfão de guerra


Papai Noel, você que não se atrasa
Na visita anual que faz à Terra,
Veja se faz voltar à minha casa
O meu papai que foi brigar na guerra.

Você que pode muito mais que a gente
E que tem uma força sem igual,
Bem que podia dar-me este presente
Na noite milagrosa do Natal.

Eu tenho um coração como uma brasa
Nesta hora triste em que rezar eu venho.
Todos têm o seu papai em casa,
Só eu, Papai Noel, é que não tenho.

Ele partiu numa noite estranha
Que da lembrança nunca mais me sai;
Disse que ia brigar lá na Alemanha
E desde então não vejo mais papai.

Ele escrevia sempre. Mamãe lia
Suas cartas baixinho, devagar...
“Eu voltarei em breve”, ele dizia
Que esta guerra está prestes a acabar.

Depois, passaram meses, muitos dias,
Notícia alguma de papai nos veio
E mamãe, na maior das agonias,
Esperava a passagem do correio.

Nada vinha. O silêncio era completo
E a razão até hoje eu não sei bem.
Mamãe passou a se vestir de preto
E nunca mais sorriu para ninguém.

Até que enfim com a última batalha
- Só de pensar o coração me dói -
O correio nos trouxe uma medalha
Com as cinco letras da palavra “HEROI”.

Por que será, Papai Noel? Me arrasa
Essa coisa que a alma me corrói
Se os tais heróis não voltam para casa
Será que vale a pena ser herói?

Papai Noel, meu santo e bom paizinho,
Me dê o presente e acabe com a revolta,
Eu sei que você vai dar um jeitinho
E me mandar o meu papai de volta.

E dormiu abraçado a um retrato,
Sonhando sonhos de venturas mil,
E encontrou de manhã no seu sapato
Uma enorme bandeira do Brasil!

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